quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As freguesias não são inutilidade administrativa


O Poder Central não poderá ver as freguesias como inutilidade

O objectivo deste governo, através do livro verde da Reforma da Administração Local, é reduzir a democracia e ignorar a identidade local – freguesias.
De facto é um documento cinzento, visto que é uma reforma para extinguir algumas freguesias, tentando eliminá-las da sua história, da sua cultura, enfim dos seus modus vivendi.
Esse livro é um documento tão pobre e sem conhecimento da realidade e identidade das suas freguesias que apenas pretende criar guerra entre as populações e autarcas directamente eleitos pelos fregueses.
Um documento que protege o município, quiçá monocolor, sem alternativas de como irão ser eleitos os autarcas, sem indicação de uma lei de bases dos autarcas, enfim uma confusão, demonstrando uma efectiva diminuição da democracia local.
 Um documento com pendor inter-municipalista, virado para as CIMs (Comunidades Inter Municipais) aonde o conselho de administração não é eleito pelo Povo.
Por força da firme oposição dos autarcas e o congresso da Anafre foi claro. Demonstrou uma acérrima contestação ao Ministro Relvas.
Quando se afirma que o livro verde caiu, é dito com alguma má-intenção ou ingenuidade. Não creio e o facto de deixar cair uns pequenos grãos de eleitores, não significa que tenham cedido.
A manobra assenta essencialmente numa armadilha. Esta ratoeira vai crispar as freguesias com um menor número de eleitores, marginalizando o interior, indefeso, claro.
Esta armadilha criará uma “guerra” nessas freguesias, visto que nessas aldeias os eleitores são mais idosos, com muito parcos recursos, dificuldade de locomoção, inacessibilidade de deslocação por carência de transportes públicos.
Na maioria das freguesias e mais no interior, as juntas funcionam como uma loja do cidadão. Os eleitores necessitam de um atestado, o próprio presidente por vezes até vai à residência entregar, reconhecendo que esse freguês não tem possibilidade de deslocação à sede.
Quantas vezes o presidente, já fora de horas e dias de funcionamento, desenrasca o freguês com o atestado ou certidão, nomeadamente nesta época de crise, os mais debilitados e carenciados necessitam destes serviços de proximidade.
A maioria das juntas de freguesia rurais não cobra dinheiro pelos atestados ou certidões.
O principal alvo deste governo é a eliminação de freguesias de menor dimensão de pessoas, situando-se estas mais no interior.
É preocupante notar que os órgãos de comunicação pouco ou nada falam. As televisões ignoram este assunto. Está tudo controlado. Que despudor.
Torna-se vergonhoso o papel de alguns autarcas na falta de solidariedade, na desunião.
 Ao conhecerem que a sua quintinha ficou intocável, alheiam-se das outras freguesia que irão ser extintas.
Hoje são estas, amanhã serão mais. A pretensão é abalar a identidade das freguesias.
É óbvio que temos de alterar e fazer ajustamentos, mas não começar por cima, aplicar a régua e não sei que tipo de esquadro como o chamado livro verde.
Têm de se respeitar os motivos de ordem histórica e cultural.
A população das freguesias é que terão de decidir por aquilo que é seu, que conhecem melhor que os tecnocratas do Terreiro do Paço.
As populações terão de opinar individualmente.
A maneira mais democrática de o fazer é a consulta popular que se chama referendo.
E não venham com o papão da troika, porque no seu memorando fala na diminuição de autarcas e não de freguesias.
O poder central não poderá retirar o valor que as freguesias têm, nem tão pouco poderão considerá-las inúteis.

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